Gravidez

Útero artificial para o desenvolvimento de prematuros extremos

Um trabalho publicado essa semana pode revolucionar o futuro de bebês prematuros extremos. Cientistas norte-americanos desenvolveram um sistema que simula um útero artificial e o testaram em carneirinhos que nasceram prematuramente. O teste do equipamento foi um sucesso, conseguindo manter os bebês por até 4 semanas adicionais, com parâmetros normais de circulação fetal, oxigenação e hemodinâmica.

Os bebês de carneiro que foram para o sistema de útero artificial nasceram entre 105 e 120 dias de gestação, o que equivale a aproximadamente 23 a 24 semanas de gestação humana.

Após alguns testes iniciais, os pesquisadores desenvolveram o modelo final que consiste no uso de uma “biobag” aquecida com entrada de oxigênio e troca de fluidos. A “biobag” é uma bolsa plástica transparente e fechada que mimetiza o tamanho e formato do útero, e é colocada sobre uma placa metálica aquecida, para manutenção da temperatura. Essa bolsa é abastecida com uma espécie de líquido amniótico artificial, um fluido com eletrólitos e nutrientes constantemente trocado. A biobag permite o monitoramento do feto, tanto por exames de ultrassom quanto através de manipulação, quando necessária. Os bebezinhos de carneiros dentro da biobag são canulados através das duas artérias umbilicais e da veia umbilical, para realizar a manutenção da oxigenação.

Esse modelo foi testado em 8 animais, que mantiveram seus níveis de oxigenação similares aos encontrados em uma gestação normal de mesmo período. Ecocardiografias fetais atestaram a manutenção da fisiologia cardíaca, e nenhum defeito no coração foi observado em todos os animais testados. A função pulmonar, um dos pontos mais críticos para os prematuros extremos, também foi mantida dentro da normalidade nos carneiros dentro do sistema de útero artificial. O desenvolvimento cerebral também foi equivalente ao que seria esperado se os bebês ainda estivessem dentro do útero materno.

O registro do artigo mostra um carneiro prematuro quatro dias após ser inserido na biobag (primeira foto), e 28 dias depois (segunda foto).

 

Após 4 semanas de crescimento e monitoramento dentro da biobag, os bebês “nasceram” e foram transferidos para ventilação mecânica, evoluindo sem maiores complicações. Como estamos falando de ciência e de um modelo animal com vistas para uma possível aplicação clínica futura, alguns desses carneiros tiveram que ser sacrificados para que fossem feitas análises mais aprofundadas em suas funções pulmonares, cardíacas e cerebrais. A boa notícia é que os animais que sobreviveram estão bem! O mais velho já tem mais de um ano!

Os pesquisadores agora trabalham em melhoramentos do sistema, como na composição do líquido amniótico. Existe uma possibilidade de que os primeiros ensaios clínicos em humanos aconteçam daqui três anos. Vamos torcer para dar certo, pois isso seria um grande passo no aumento da sobrevida e qualidade de vida de bebês prematuros extremos.

Atualmente, com os avanços nas tecnologias das UTIs neonatais, a faixa limite para a possível viabilidade de prematuros extremos passou para 22 a 23 semanas de gestação. Porém, os bebês muito prematuros que conseguem sobreviver podem ter complicações crônicas, como alterações cardíacas, pulmonares, oculares ou neurológicas. Se fosse possível que esses bebês ficassem mais 4 semanas em um útero artificial, as chances deles sobreviverem sem nenhuma sequela seriam imensamente maiores.

 

Referência do artigo científico para saber mais: Partridge et al. An extra-uterine system to physiologically support the extreme premature lamb. Nature Communications, 8. DOI:10.1038/ncomms15112.