Desenvolvimento Infantil, Filhos

Como meninas e meninos reagem à cultura das princesas?

As meninas aqui em casa têm adorado tudo que se refere à princesas, o que me causou certa preocupação – já que eu nunca estimulei ou gostei desse “princesismo” todo. Sei que elas ainda são muito pequenas, mas imagino que essa cultura massificante das princesas da Disney não seja algo muito benéfico quando seguido por alguns anos. Sei que muitas mães e pais também tem o mesmo temor.

Um trabalho publicado esse ano na Child Development analisa a relação das crianças com o mundo das princesas. A pesquisa conduzida por uma cientista (e mãe) norte-americana analisou longitudinalmente 198 meninas e meninos em idade pré-escolar, durante um ano. O objetivo foi associar o nível de engajamento aos produtos e mídias das princesas Disney com a autoestima, imagem corporal e o comportamento dessas crianças.

Os resultados encontrados reforçam uma certa preocupação a respeito. As meninas mais engajadas na temática das princesas no início do acompanhamento foram as que desenvolveram um comportamento feminino mais estereotipado, como preferência por brinquedos “de menina”, e uma certa aversão a jogos e atividades mais dinâmicos e enérgicos. Muitos pais podem questionar se isso seria negativo, dado que “meninas fazem coisas de menina”, mas o problema é que esse excesso de comportamentos femininos estereotipados já foi anteriormente relacionado com uma elevada importância da aparência (levando a um ideal de beleza inatingível), e com um estilo de vida menos propenso a se empenhar em atividades típicas masculinas (como aulas de matemática e ciências) e a correr riscos.

Eu achei os resultados bem interessantes e acredito que se as crianças fossem acompanhadas por ainda mais tempo (o que já deve estar sendo feito), os resultados possam ser até mais impactantes. Por enquanto, não acho que devemos reprimir ou proibir o interesse das meninas pelas princesas, mas pessoalmente também não quero estimular. Acho que conversar com elas e mostrar uma “visão crítica” sobre o comportamento típico das princesas vale a pena.

Outro ponto interessante do trabalho é que os pesquisadores avaliaram não só meninas, mas também meninos que se interessavam ou não pelas bonecas, filmes e atividades das princesas. A pesquisa demonstrou que 69% das meninas tiveram alto engajamento com brinquedos e mídias de princesas durante o ano de acompanhamento, enquanto que entre os meninos esse índice foi de apenas 4%.

Tanto as meninas quanto os meninos que se engajaram mais com as princesas tiveram mais comportamentos típicos femininos. Enquanto isso pode ser preocupante para as meninas, para os meninos parece ter um efeito positivo!

Os meninos que se engajaram às atividades de princesas demonstraram ter mais interesse em ajudar os colegas de classe ao final do ano de acompanhamento. Eles também tiveram interesses mais variados e foram mais propensos a compartilhar brinquedos com os amigos.

Um dos pontos levantados pela pesquisadora é que essa exposição à temáticas e histórias tipicamente femininas pode ajudar a contrabalançar o excesso de exposição a mídias tipicamente masculinas (como histórias de super-heróis ou desenhos violentos). Ou seja, se você é mãe ou pai de um menino que se interessa por brinquedos ou atividades tipicamente femininas, não pode seu filho! Isso pode ser até mesmo benéfico para a sua formação.

Para saber mais: Coyne SM. Pretty as a princess: Longitudinal Effects of Engagement with Disney Princesses on Gender Stereotypes, Body Esteem, and Prosocial Behabior in Children. Child Development 87 (6): 1909-1925, 2016.