Cuidados na gravidez, Desenvolvimento Infantil

Álcool na gravidez: novo estudo mostra porque deve ser evitado!

As recomendações sobre o consumo de álcool na gravidez adotadas no Brasil e em vários países são: álcool zero! Ou seja, não é aconselhável beber uma única dose de álcool durante toda a gestação. E qual o porquê dessa restrição tão severa? O fato é que não se sabe qual seria a dose de álcool segura para a gestante. Alguns estudos indicam que baixíssimas doses já podem provocar alterações no bebê.

Muitas pessoas discordam dessa recomendação, pois “antigamente as mulheres bebiam vinho ou cerveja toda semana e nada acontecia”. Bom, será mesmo que nada acontecia? Hoje nós já conhecemos as Desordens do Espectro Alcoólico Fetal, um grupo de condições que podem ocorrer em crianças cujas mães consumiram álcool em quantidades variadas. Dentre os problemas que podem ocorrer estão dificuldades de aprendizado, problemas na motricidade, na fala e também alterações comportamentais.

As Desordens do Espectro Alcoólico Fetal podem acometer até 5% das crianças em idade pré-escolar, mas muitos dos casos não são diagnosticados. No lado mais severo das alterações causadas pelo álcool, está a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), causada pelo consumo excessivo de álcool durante a gestação e em que há dificuldades de cognição associadas com anormalidades faciais, como: lábio superior fino, queixo pequeno, nariz curto, fissuras palpebrais curtas, anomalias nas orelhas e tamanho diminuído do crânio. A associação dessas anomalias faciais com a SAF já é bem conhecida, e alguns trabalhos mostram inclusive que em gestantes alcoólatras, quanto maior for a ingestão de álcool, mais graves serão os defeitos faciais observados no bebê.

Agora vem uma novidade bem impressionante: um trabalho publicado nesse mês na revista JAMA Pediatrics demonstrou que QUALQUER quantidade de álcool é capaz de provocar defeitos na formação da face, porém na maioria dos casos esses defeitos são imperceptíveis a olho nu. A pesquisa analisou 517 bebês na Austrália, e dentre esses, 415 nasceram de mães que beberam ocasionalmente. Os pesquisadores distribuíram questionários às mães, para coletar a informação exata relativa ao consumo de álcool durante os três trimestres da gestação e também durante o trimestre que antecedeu a concepção. Com base nisso, calcularam a quantidade total de álcool absoluto ingerido (que depende do teor alcoólico de cada bebida), classificando-a em: abstinência, consumo BAIXO (menor que 20g de álcool absoluto em uma ocasião ou de 70g de álcool absoluto por semana), consumo MODERADO (21 a 49g em cada ocasião ou menor que 70g por semana), ALTO consumo (maior que 70g de álcool na semana) e consumo COMPULSIVO (maior que 50g de álcool absoluto por ocasião). Próximo ao primeiro aniversário dos bebês, foram coletadas imagens tridimensionais do crânio e o tamanho, a forma e a posição dos olhos, nariz, queixo, orelhas e crânio foram analisadas por programas de computador.

Os resultados mostraram que o consumo de qualquer quantidade de álcool durante a gravidez resultou em pequenas alterações no nariz, lábios, olhos e bochechas! Por exemplo, um leve encurtamento do nariz ou entortamento da sua ponta. Em mulheres com consumo compulsivo durante o primeiro trimestre, os bebês tiveram graus variados de retração da mandíbula, mesmo que esse consumo excessivo tenha ocorrido apenas em poucas ocasiões!

Outro dado bem interessante é que no grupo das mulheres que relataram sentir os efeitos do álcool mais rapidamente, os bebês tiveram as alterações craniofaciais mais pronunciadas. Uma das explicações possíveis para isso é por causa das diferenças individuais no metabolismo de álcool, determinadas geneticamente. Ou seja: aquelas mulheres mais “sensíveis” aos efeitos do álcool podem estar também deixando seus fetos mais vulneráveis aos efeitos nocivos do consumo de bebidas alcoólicas.

Apesar dessa pesquisa mostrar que beber qualquer quantidade de álcool pode provocar alterações faciais no bebê, (mesmo que imperceptíveis), aparentemente isso não traz implicações clínicas. Portanto, as mulheres que beberam ser saber que estavam grávidas não precisam se preocupar! Porém, vale lembrar que esse trabalho ajuda a nos mostrar que não há níveis considerados seguros para o consumo de álcool durante a gestação (até porque a chance de danos no bebê pode variar em cada mulher), e que a melhor recomendação de saúde pública é mesmo a do álcool zero!

Referências do artigo científico para saber mais: Muggli M et al. Association Between Prenatal Alcohol Exposure and Craniofacial Shape of Children at 12 Months of Age. JAMA Pediatrics, junho de 2017. DOI:10.1001/jamapediatrics.2017.0778.