O mito de que vacinas podem causar autismo é um dos mais difundidos, porém a resposta bem clara é NÃO! Quem trabalha com ciência tem essa resposta na ponta da língua, e o bacana é que um artigo recente publicado na revista Science fala sobre mitos na vacinação, e conta o histórico de onde surgiu essa falsa premissa. Achei bem importante trazer o conteúdo desse artigo para cá, para ajudar a esclarecer essa confusão. INFELIZMENTE já ouvi muitas pessoas acreditando nesse mito – inclusive profissionais de saúde (uma das coisas que mais me chocou em relação a isso foi ver uma excelente psicomotricista referência em sua área falar que vacinas podem causar autismo em uma palestra com mais de 100 pessoas, quase todas cuidadoras de crianças).
Ocorre que lá em 1998 um médico cientista chamado Andrew Wakefield publicou um trabalho na revista The Lancet sugerindo que a vacina contra caxumba, rubéola e sarampo poderia causar autismo. Com isso, as taxas de vacinação na Inglaterra caíram drasticamente nos anos seguintes. Já nos anos 2000, Wakefield passou a ser investigado e descobriram que ele tinha depositado uma patente para uma nova vacina e estava envolvido em um esquema financeiro que tentava processar as empresas de vacina. Isso caracteriza o que chamamos na ciência de CONFLITO DE INTERESSES não revelado. Com isso, o The Lancet retratou o artigo de Wakefield em 2010 e logo depois o médico teve sua licença cassada.
Outras confusões também ajudaram a perpetuar esse mito, como a do médico Mark Geier, sugerindo haver uma interação entre mercúrio presente nas vacinas e a testosterona circulante nos meninos, que explicaria os sintomas de autismo. Os estudos publicados por ele foram severamente criticados pelos erros metodológicos, mas o grande problema é que Geier passou a vender tratamentos baseados nessa teoria, todos não comprovados e que ainda ofereciam sérios riscos às crianças. Após uma investigação, o Comitê Médico de Maryland cassou a licença de Geier.
Outras publicações científicas sérias que envolveram milhares ou milhões de crianças já relataram não haver diferença nos índices de diagnóstico de autismo entre crianças vacinadas e não vacinadas.
Essa onda “anti-vacinação” tem causado surtos de doenças que há muito tempo não se via em vários países do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, a eliminação do sarampo tinha sido documentada em 2000, mas desde 2014 vários surtos aparecem em diferentes estados, fruto em grande parte da onda anti-vacinação. Vacinar uma criança é um ato de proteção não somente a ela, mas também às outras crianças que com ela convivem!
Para saber mais:
Wessel L, Four vaccine myths and where they came from. Science, abril de 2017.
https://www.cdc.gov/measles/cases-outbreaks.html